Navegantes do sangue

Certa vez,

em hora incerta,

rachou o convés.

Embarcação aberta.

Admirado estive,

diante de tal fato,

quando vi que não era água

que vinha de baixo.

Sangue e tripas

de um local distante,

sem dono nem destino.

Apenas adiante.

Desespero nas velas;

Mastros abaixo.

Olho e acho

faces amarelas.

Por toda volta,

só o vermelho.

O mar era uma aorta,

que, do céu, era espelho.

As trevas se fizeram,

mas o mar era enrubescido.

O barco sumia

enquanto tudo era engolido.

Que surpresa nos tomou

quando notamos o inesperado:

o mar de sangue era raso,

assim como, muito gelado.

O céu negro era repleto de luz,

luminescente como o fogo.

tudo à volta era visto.

Ninguém pedia socorro.

Sangue...

Por todos os lados.

Nuvens negras de luz

em todo o espaço.

Horizontes vermelhos.

Mar aos joelhos.

Marujos encharcados.

Barco encalhado.

O sangue de esvai.

Só há chão sob os pés.

A lama se forma:

terra e sangue são o convés.

Todo o horizonte,

vermelho até o infinito,

numa visão angustiante:

o capitão estava sozinho.

Rafael S P Valle
Enviado por Rafael S P Valle em 13/01/2008
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