Navegantes do sangue
Certa vez,
em hora incerta,
rachou o convés.
Embarcação aberta.
Admirado estive,
diante de tal fato,
quando vi que não era água
que vinha de baixo.
Sangue e tripas
de um local distante,
sem dono nem destino.
Apenas adiante.
Desespero nas velas;
Mastros abaixo.
Olho e acho
faces amarelas.
Por toda volta,
só o vermelho.
O mar era uma aorta,
que, do céu, era espelho.
As trevas se fizeram,
mas o mar era enrubescido.
O barco sumia
enquanto tudo era engolido.
Que surpresa nos tomou
quando notamos o inesperado:
o mar de sangue era raso,
assim como, muito gelado.
O céu negro era repleto de luz,
luminescente como o fogo.
tudo à volta era visto.
Ninguém pedia socorro.
Sangue...
Por todos os lados.
Nuvens negras de luz
em todo o espaço.
Horizontes vermelhos.
Mar aos joelhos.
Marujos encharcados.
Barco encalhado.
O sangue de esvai.
Só há chão sob os pés.
A lama se forma:
terra e sangue são o convés.
Todo o horizonte,
vermelho até o infinito,
numa visão angustiante:
o capitão estava sozinho.