Sei que a sombra clareia
Um olho trago no deserto
e o outro no futuro que se pronuncia,
mas não semeio de destino
o meu dia a dia.
Não traço arquiteturas orientadas,
muito menos visto de voz
o que não é.
A tarde de pedra traz seu cansaço,
mas também o conforto
daquilo que deixei
nos encontros.
Corro e morro pela vida que avança
e não cessa de ser:
nas praças, avenidas, teatros, ruas;
mas também nos becos,
rareados pela vergonha,
que fazem do beco
outro beco,
outro beco,
labirinto de gastura.
Ali, onde ninguém goza,
onde o orvalho da manhã é de lama e asfalto:
ninguém fica, nem criança.
Mas sei que essa vergonha
desenha o aconchego
e a despedida.