A MORTE DO MENINO FLAGELADO

A noite devorou o sonho

do menino flagelado.

que dormia ao relento

ali perto do lixo.

Ele nunca mais sonhará

com a mãe morta,

não passará mais fome,

nem se revoltará

contra a truculência da polícia,

do segurança do bar

ou com o desprezo asqueroso daquela gente branca e esnobe

do prédio chique do fim da rua.

Nunca mais ouvirá a voz

da velha beata

que tanto lhe fala do inferno

e lhe odeia por não ter nada.

Hoje,

o menino não acordou.

Morreu de frio.

Mas já estava doente.

Todos sabiam.

Ninguém se importava.

A noite o levou embora

de um mundo

que não o queria,

que lhe desprezava,

e não reconhecia nele

uma vida.

O menino morreu,

mas não de frio

como disseram

os bombeiros

que recolheram o corpo

como se fosse lixo.

Foi, ao contrário,

um caso de homicídio,

cometido por todos

e por ninguém.