Vestígios
Ainda há em mim
Vestígios do menino que fui
Tudo isso me lembro
Ou imagino lembrar
Sem saudades
A vida urge
A vida é tarde
Ainda há em mim
Aquilo que fui ontem
Sem desesperos, sem pressas
Me apresso a lembrar
Os meus esquecimentos
A memória é um vasto campo
Um imenso céu de estrelas cadentes
Ainda há em mim
Restos de uma cinza
Quarta-feira
Meu corpo-pecado
Dançou por toda noite
Meus olhos rodaram salões
Sou o pai dos meus pecados
E não me imponho salvação.
Ainda há em mim
Aquilo que chamam paixão
O ardor nas pontas dos dedos
O arfar nos pensamentos
E o menino que fui
Doí por dentro, na alma
A vida se acalma passando
Se ajeita ao tempo, no tempo
Lá fora chove hoje e sempre
Os olhos se acostumam
A olhar o nada.
Milton Antonios
18set/2024