POEMA RASGADO

Não há lacunas na vida

quando um sai

dois vão ocupar o lugar

um que nasceu

e outro que está pra chegar

A vida não se evapora

como fumaça no ar

ela se transforma

em outros cenários

outras paisagens

outros rostos

outros nomes

novos números de identidade

Os sumidos não voltam

deixam apenas retratos

algumas cartas de amor

guardadas nos armários

uns boletos pagos

talvez outros atrasados

e todos serão rasgados

jogados no lixo da História

Se cada desaparecido

deixasse vago seu lugar

a vida já teria se tornado

em um enorme vazio buraco

Portanto

a quem um dia me substituir

saiba que atrás dele vivi

e por isso escrevo esse poema

que espero ser lido

antes que seja rasgado

ou até das nuvens deletado

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 16/09/2024
Reeditado em 16/09/2024
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