A FOME DOS AFETOS
Em cada passo, uma súplica, um lamento,
de um coração que anseia por afagos profundos,
colos que amparem os sonhos, beijos que acalmem,
um cafuné que sussurra segredos de ternura.
Ah, quanto desejo de um abraço que seja abrigo,
uma mensagem que encha a madrugada com promessas,
flores que murmurem amor em cada pétala,
doces que adoçam a alma e a esperança.
Quero música que embale os meus silêncios,
vento que acaricie e perfume meus pensamentos,
cheiros que me transportem a lugares serenos,
mas, acima de tudo, quero parar de me doar.
Percebo que não sei como fechar ciclos,
os pontos finais são enigmas,
meus períodos são sempre reticências,
viram vírgulas, aspas abertas, pensamentos dispersos.
Vou, simplesmente vou, numa dança sem fim,
cuidando, desculpando, superando, compreendendo,
meus gestos se tornam abraços inacabados,
e o que dou parece sempre mais do que o que recebo.
Aceito fragmentos, migalhas de afeto alheio,
enquanto meu coração grita por plenitude,
e ainda assim, continuo,
em busca de um amor que não seja apenas um eco distante.
É a fome de receber o que jamais parece suficiente,
uma eterna procura por algo que preencha,
em cada ato de dar, um vazio que se abre,
e em cada gesto, uma esperança de finalmente ser saciado.