VELHO PEDRO
Da raiz eu sou a graça
deste tronco, sou a casca
e do rio sou o nadar nas
saudades de uma ingazeira
que morreu de sede.
Meu peixe bateu asas
numa garça nua escura
arraigada no sol sem
praia.
Tristeza me corroeu…
no tempo ele envelheceu,
no entanto, partiu porque
o pouco que restava em
mim mesmo. Desencantou.
Adeus meu velho… estou
atolado nas areias do
nada posso, sendo que
as vezes paro e fico
a pensar…
Debruço-me no tronco
seco e perco de vista
meu colibri. É só fumaça.
Ah! Quantas vontades, deste
nosso enraizar.
Solucei. Falta tudo, não
tenho mais você. Assim
sendo, partirei nas lembranças
do tempo que banhávamos nossos
corpos nus e aprendemos a nadar.
Pertença. Hoje é só pó.
Um dia voltarás e eu juro
que lá na volta me encontrarás.
Hoje crescido, vestido e de barba
longa… resisti ao tempo, mas o vento
açoita meus cabelos brancos.
Sonho ainda com a velha enchente
a lavar as baixas
e carregando tudo que lhe
saltava o dorso.
Pedro, eras rio.
Agora… ao pó voltarás.
Já quanto a minha resistência,
permanecerá. Vamos lá meu velho.
Torne a brotar.
Meu lar.
Editada em 14.11.1992
Reeditada em 12.09.24
Eugênio Costa Mimoso.