Dez de Espadas
O frio metal corrói, lentamente
As quentes entranhas de meu ser
Um punhal de puro mercurio, venenoso
Leve como uma pluma, mortal como uma bala
Alguns golpes não tiram a vida instantaneamente
Drenam-na lentamente, ao longo das eras
Gota por gota, celula por celula
Até restar uma casca imóbil.
"Nada" jamais descreveria um apunhalado
Há tanto. Dor, medo, raiva, insônia
Uma leve coceira na perna, ardencia no rosto
Rubor febril, coração acelerado, silêncio.
Parece amor. Quem diria, parece amor.
Um amor doce como o chumbo
Quente como chamas sobre um vilarejo
Belo como um assassinato ao por do sol.
Quem me dera ser amor. Quem me dera ser algo.
É apenas ilusão, entretanto. Uma carta tirada
Um abraço falso, um até mais ver eterno
Sem despedida, agradecimento ou aplauso.
Apenas dez espadas nas costas das almas sensíveis restaram, e nada mais.