Dez de Espadas

O frio metal corrói, lentamente

As quentes entranhas de meu ser

Um punhal de puro mercurio, venenoso

Leve como uma pluma, mortal como uma bala

Alguns golpes não tiram a vida instantaneamente

Drenam-na lentamente, ao longo das eras

Gota por gota, celula por celula

Até restar uma casca imóbil.

"Nada" jamais descreveria um apunhalado

Há tanto. Dor, medo, raiva, insônia

Uma leve coceira na perna, ardencia no rosto

Rubor febril, coração acelerado, silêncio.

Parece amor. Quem diria, parece amor.

Um amor doce como o chumbo

Quente como chamas sobre um vilarejo

Belo como um assassinato ao por do sol.

Quem me dera ser amor. Quem me dera ser algo.

É apenas ilusão, entretanto. Uma carta tirada

Um abraço falso, um até mais ver eterno

Sem despedida, agradecimento ou aplauso.

Apenas dez espadas nas costas das almas sensíveis restaram, e nada mais.

Ariel Alves
Enviado por Ariel Alves em 13/09/2024
Código do texto: T8150570
Classificação de conteúdo: seguro