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Uma tarde no meio de tantas.
Minutos de tédio que se tornam contemplação.
Uma aguda percepção momentânea do agora,
um bocado de sentimentos impróprios
para poema ou prosa, e entre as grades,
o panorama bege da cidade.
Há gente que morre lá fora,
nos quilômetros próximos, sim,
mas além — das fronteiras, nas trincheiras,
em realidades que tenho o privilégio de desconhecer.
Há gente que se arrasta na lama
nesta tarde no meio de tantas,
e que há de se arrastar amanhã;
como posso ser tão infeliz?
Uma breve concepção transitória de sorte
quase esboça gratidão, e então vai embora:
somos cegos às dores do mundo.
Glacial e fechado ao entorno,
diminuo, de novo, o escopo,
firmo o corpo no assento de couro
e meu rosto é pintura no vidro.
Você está na janela também?