Atlas

Já ouço o estralar de algumas fissuras

Velhos traços são emoldurados em um tom envelhecido

O espelho revela as ruas, as rugas

Defronto-me com um senhor inseguro

Que horror!

As esperanças do começo do caminho ficaram presas nos espinhos numerosos que pisei

Velhos ideais eu não faço nem ideia onde os deixei

O preço é alto demais

O mundo vai me deixando pra trás

Notícias da civilização invadem meus olhos e me mostram o quão estamos perdidos

Rendidos!

Todo esse emaranhado de questões aperta meu espírito

Visto minha armadura pra essa batalha dura e involucral

Levar o mundo nas costas é padecer a casa passo

Com o tempo somos conhecidos apenas pelo cansaço

Carentes

Cortados

Calados...

Vamos mirrando ao som de risadas hostis

Quero ter a leveza proporcional

Se o mundo vai mal eu não sou o culpado pelo enredo

Não quero ter mais pesadelos

Se isso é uma peça sem ensaio quero sair de cena com algum poema no bolso

Não me enclausurar em um calabouço

Necessito tirar o mundo das costas

Corrigir a coluna

Contemplar a mesa posta

Olhar os jornais e as janelas de outra forma

Escrever alguma anedota que ridicularize a seriedade

Nutrir ao menos um pouco de vaidade

Se o mundo é uma tragédia que ao menos eu beije a donzela com que eu tanto sonho

Se o mundo é uma comédia que eu a faça rir de um jeito especial

Sei que o mundo vai mal

Mas só por hoje não quero pensar nisso

Que tal ouvir o cantar dos pássaros na laranjeira de um quintal?

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 05/09/2024
Reeditado em 05/09/2024
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