Atlas
Já ouço o estralar de algumas fissuras
Velhos traços são emoldurados em um tom envelhecido
O espelho revela as ruas, as rugas
Defronto-me com um senhor inseguro
Que horror!
As esperanças do começo do caminho ficaram presas nos espinhos numerosos que pisei
Velhos ideais eu não faço nem ideia onde os deixei
O preço é alto demais
O mundo vai me deixando pra trás
Notícias da civilização invadem meus olhos e me mostram o quão estamos perdidos
Rendidos!
Todo esse emaranhado de questões aperta meu espírito
Visto minha armadura pra essa batalha dura e involucral
Levar o mundo nas costas é padecer a casa passo
Com o tempo somos conhecidos apenas pelo cansaço
Carentes
Cortados
Calados...
Vamos mirrando ao som de risadas hostis
Quero ter a leveza proporcional
Se o mundo vai mal eu não sou o culpado pelo enredo
Não quero ter mais pesadelos
Se isso é uma peça sem ensaio quero sair de cena com algum poema no bolso
Não me enclausurar em um calabouço
Necessito tirar o mundo das costas
Corrigir a coluna
Contemplar a mesa posta
Olhar os jornais e as janelas de outra forma
Escrever alguma anedota que ridicularize a seriedade
Nutrir ao menos um pouco de vaidade
Se o mundo é uma tragédia que ao menos eu beije a donzela com que eu tanto sonho
Se o mundo é uma comédia que eu a faça rir de um jeito especial
Sei que o mundo vai mal
Mas só por hoje não quero pensar nisso
Que tal ouvir o cantar dos pássaros na laranjeira de um quintal?