NÃO FEDE NEM CHEIRA
Você que se gloria
Quando paga impostos
Rigorosamente em dia
Você, cidadão cartesiano
Simetricamente encaixado
No horário comercial
Funcionário do ano
Com direito a férias
E participação nos lucros
Você com sua régua
De medir gente e coisa
Na medida matemática da utilidade
Você, peso morto do universo,
Nem quente nem frio
Que não pergunta sobre flores
Ou se importa com inutilidades
Você na ponta da pirâmide social
Máximo representante da humanidade
Por essas e outras, a poesia está
Prestes a te vomitar
Como um verso morno
que não fede nem cheira