ARQUITETO DE MIM MESMO
Em meio a estátuas de gesso e cal,
Paredes soturnas, nuvens de ilusão,
Construo o espectro de minha efêmera habitação.
Este templo, fruto do pó das estrelas e do pensamento do criador
Foge pelas minhas mãos e sugere o mais terno caos.
Debalde, assisto à gênese de um universo que não é meu
E em meio a essa azáfama, erijo um espelho que reflete fragmentos de meu ser.
Na inconstância dos tempos que se seguem,
Ora construo, ora destruo.
No entanto, o plinto está lá esperando meu arraigar
Como um catre em que um nauseabundo jaz.
Inadvertidamente continuo minha empreitada
Tendo apenas uma certeza:
Essa senda é irrevogável
E meu destino está escrito
À soleira da porta, trazido na poeira dos pés
De alguém que nunca me verá.