JOÃO BRASIL – DOENTE DE POESIA?

Meu nome é João Brasil,

Não é meu nome de pia,

Mas é o nome falado

Aqui nesta cercania

Que melhor me representa,

No meu simples dia a dia.

Outros nomes não são meus,

Deixo-os, pois, à revelia.

Basta chamar-me de João

Brasil — Vossa Senhoria.

Sou filho de Dona Maria

E do finado Severino,

Como João Cabral diria

Em seu verso nordestino.

Nasci nesta redondeza

Onde o sol mais alumia,

Onde a chuva quando chove

Provoca mais alegria,

Onde o amor quando acontece

Vira logo poesia!

Acordei nesta manhã

Vendo diferente o dia,

Atentando para as coisas

Que não mais eu percebia:

A beleza de uma gota

De orvalho que se escorria;

O acalanto, o refrigério

Da brisa suave e fria,

E o cantar dum passarinho

Com a mais pura melodia.

Eu fiquei foi assustado

Vendo agora o que não via,

Com esse novo despertar,

Com essa nova sensoria.

Pois o mundo parece outro,

E, eu, um outro ser na via.

Mas por que eu estou agora

Ouvindo o que não ouvia?

Pensando o que não pensava?

Sentindo o que não sentia?...

Será, pois, que estou doente

Ou tudo isto é fantasia?

Será, pois, que adormeci

Ou saí da letargia?

O que foi que aconteceu

Pra causar anomalia?

Para fazer que escrevesse

Pra você 'sta poesia?

Só tomara que não seja

Essa coisa, pandemia.

Acordo pensando em verso,

Vou dormir co'a poesia,

Navegando nos meus sonhos

Até amanhecer o dia.

Até nas coisas mais simples

Tenho a visto em demasia.

Até no soprar do vento

Eu encontro sinfonia.

Até no trinar do grilo

Eu percebo maestria!

Que tolice! Que tolice!

— Outrora também diria.

Mas agora que estou certo

De ver tudo o que eu não via.

Que por trás da aparência

Existe outra simetria.

Que por trás das coisas simples

Há beleza em demasia,

Um sentido, uma razão...

E de Deus... sua autoria!

Questiono ao mundo inteiro:

O que pode a poesia?

O que faz ao ser humano?

Qual a sua sinergia?

Faz o bem ou faz o mal?

Para que tem mais valia?

O mundo sem a presença

Da poíesis - que seria?

Sua presença é descartável

Ou merece primazia?

Salve, salve os poetas!

Salve, salve a poesia!

O mundo precisa deles,

Pois, sem ela, o que seria?

Obrigado, Deus Eterno,

Pela sua maestria!

Obrigado, Salvador,

Por criar a poesia.

Deixando a vida mais bela,

Mais suportável o dia.

Socorra-me se eu ‘stiver

Doente de poesia!

Pra que eu possa suportá-la

Nesta minha travessia,

Pra que eu possa conviver

Com ela no dia a dia.

Pois lhe peço, não me cure,

Não me faça cirurgia,

Que quero viver pra sempre

Nessa sua companhia!

— Antonio Costta