GENTE’S-PÓSTUMA’S

Profetas um dia existiram, porém não surtiu efeito. Templos foram tombados, no entanto, batismos jamais aconteceram. Quem quiser acreditar, acredite, pois se incrédulo fores, não me importo, no mais rogo por todos que um dia na vida já foi, razão do encantar, pois poucos na vida souberam, verdadeiramente amar.

Honras e méritos criaram, porém não souberam dar, pois os heróis do ontem, no hoje não pode mais falar, quero Deus que um dia eu possa pelo menos se recordar, da própria batalha de vida, que covardemente não souberam ganhar. Pois hoje não sou ninguém, amanhã posso ser alguém, mas, o que eu quero mesmo é não ser chacota d’uma história da qual se possa falar… pois, quem tem ouvidos que ouçam, tudo aquilo que agora eu vou versar.

Começo pelas Marias, estas de todos os dias; umas com ares de santas, outras de Ave-Maria… a primeira é Sá-Maria, que jamais negou um porte de cantar um bendito, que a todos possam interessar. Gestou sem medo Pelé, que do pé gerou a fruta para índio poder cuidar.

Dou um salto e pulo cá, para deste homem comentar, pois o danado é bom demais, só para nós dois falarmos… este tal de compadre Hormínio, que hoje vive a pelejar… mas, que jamais abandonou sua Almerinda para as bandas do lado do desejar. Caboclo macho e faceiro. Que até onça colocou para se aquietar. Quem diria ser donos das terras, onde nasceu seus filhos, para o lado de capoeira grande; linda, para meus olhos cobiçar.

Menino eu peço licença, para também minha história também contar; pois, quem da pena se vale, não pode esquecer de um dia poetizar. Nasci na casa de Mimosa, quase na porta do cemitério a plantar; pois quando neste mundo cheguei… presentes se faziam três donas: Vó Generosa a parteira, miudinha que só, dona Bia, minha mãe e sua mãe a pelejar. Ambas devotas da Santa virgem Maria… Senhora do procriar.

Sebastião era meu pai, mais conhecido como Tiãozinho capador de porca… ele sim sabia operar, porque quando ele não ia, todos vinham buscar. E se não quiseres assim tratá-lo, basta lembrar que ele também foi tropeiro, faceiro, sem eira nas beiras de um patamar… de um nada fazia um tudo e fazia o trem funcionar, custava o que custar. Esse é seu Tião. Sujeito de dar inveja. Jamais quebrou uma promessa, isso não precisava nem jurar.

Passando a falar de fumo, e não somente de mascá-lo; para e fico a pensar. Como era que Maria conseguia respirar. Ela comia fumo e para consolar, tomava uma pinga de lascar. Essa vinha lá da vendinha de Urico, cabra bom para danar. Permino era seu marido, tipo bravo de dar dó, enquanto ele girava o quengo, ela laçava o nó e para terminar essa prosa, quero também lembrar, de Geraldinha, comadre velha, que quando traçava numa briga com Maria, só Deus para separar.

No beco lá do lagedo, tudo podia acontecer, exceto uma verdade que não posso deixar de falar; que depois da meia noite, tudo ficava escuro e na noite de lua parca, coisa que não faltava era história de bicho de arrepiar… Deixemos isso de lado, caso de Pedra Azul, deixa para lá. Rua do Pari, beira do do rio a transbordar… esse caçula há de vos contar. Valei-me meu Deus, que a enchente está vindo para transbordar.

Maria de Sercundino, parideira fina que só… não hoje, seja amanhã, não importa como eu vou cantar, pois viva ela ainda está e não deixa esse poeta se envergonhar. Nandinho era seu filho, flor de sabugueiro que nascera sem esperar, seja sina, eu sei lá, eu só sei que o desmantelo foi grande, para dela, ele se separar. Quando ela adoeceu, quase que o danado morreu, de tanto berrar… lascou um chute em dona Biata, parteira de bom nome, que tentava colocar no mundo outro homem, para poder safar da maldita da sorte, que ficou a desejar.

Rama de Condeúba se espalhou pelos gerais das minas e dali brotou uma flor que trazia no seu pequeno porte, uma vida de prosperar. Durou mais de noventa, ninguém soube nem contar, eu só conheço o depois, que meus próprios olhos puseram-se a enxergar. Dela tão miudinha, nasceu um broto, Manoel do seu pensar, do qual gerou Janinha, outra Maria de nome, com sobrenome Oliveira, de novo a prosperar. Três crias pariu Maria. Tudo macho, do seu orgulhar.

Dolita era seu nome. Branca dos olhos azuis, igual uma safira a brilhar. Dela só me lembro de uma coisa - não entrava numa briga sem deixar seu sinal. Metia qualquer um no bolso, costurava, dava um nó, mandava chamar a polícia e trancava todos no xilindró. Comigo a coisa é assim, gritava Dolita a desafiar, quem mexe com minha filha, comigo deve topar, pois jogo o cabra na cacimba, donde faço até sapo atolar.

Eu passei numa certa época, num tal de pé de ladeira, roça igual as outras, mas com um diferencial… menina de poucos anos, mas com uma mente gigante, que qualquer doutor pode duvidar. Só não mexesse com seu cigarrinho, para dar uma pintadinha, porque senão brava ela ficava e arriscava até um palavrão, fora disso, ela era do povão, gente de bom coração, cujo nome era uma monossílabo - Té de Ernestina, era assim que ela exigia ser tratada.

Esta Maria eu me dano, quando lembro dos fulanos que só soube explorar, maltratar… não souberam nem valorizar, porque quem nasceu só para ser macho, jamais um dia saberá o que de fato é dever de amar. Tianinha era seu pseudônimo, porque na verdade, loucura era seu nome, porém trazia na alma a beleza da fortuna que findava na formosura de saber encantar e até mesmo perdoar. Quantos filhos você teve minha filha? Eita, não dá para contar.

Dona Jacira adoeceu, e ninguém a acolheu, nem sequer o seu marido a quis para tratá-la, nem tão pouco suas filhas, não se importaram de ampará-la… pisaram na flor carinhosa, que todos tinham por prosa e ninguém quis zelar, acredite quem puder, mas até hoje, ela grita dentro do meu pensar e dia e noite eu me pergunto, o que seria de nós, pobres mortais viventes, pois quem um dia foi pó, com certeza um dia barro tornará. Obrigado dona Jacira, pelo carinho que por mim tivera, mesmo quando nada em troca eu podia dar… aquele sorriso bonito. Eu não sabia de onde vinha, porque até seu sofrimento, nos obrigava a contemplar.

Um dia sofri do estômago, fiquei ruim para danar. Bati nas cumbucas velhas e arranquei de lá, uma buta, duas quinas, que junto com uma reza boa, parti logo para bebericar, pois não foi que eu fiquei novo e passei a melhorar. De quem era essa receita? De seu Santo Caboclo, aquele que curava todos, sem ao menos se incomodar; pois quando dele precisavam, iam logo buscá-lo. Mesmo não sendo parteiro, era faceiro na arte do saber curar.

Passo agora a contar, de um tal de Maria, que até do Carmo tinha. Nasceu para as bandas de Montes Claros e apesar de sua negritude, até hoje ela faz o sol brilhar; seja no sul ou no norte, a dita não liga para a morte, pois ela tem coragem de sobra para quem quiser comprar. Nunca vi tanta garra… até onça preta caçar… hoje virou prefeita dum povo que vive a labutar contra a peste coronelismo, esse tal de fascismo, no nosso Jequi a importunar. Essa tem tutano até para nós dois apostar.

Me minha mãe me contou, que quando criança ela era, Escondida de minha avó; inventava a costurar um tal de paletó, e que hoje mal-mal, aprendeu desatar um nó, mas tenho orgulho dessa danada, pois foi ela que me ensinou que com V se escreve Vida e com P se traça partida para tudo se poder criar, então agradeço a ela pelas coisas que hoje eu também aprendi a costurar.

Estou chegando ao fim… Meu Deus eu não posso deixar de falar dessa figura, que muito me ensinou a construir, porque aleijado ou não, sempre seremos capazes de criar, custe e doa em quem custar. Melquíades era seu nome; Geralda sua mulher. No entanto vivia só, porque ninguém compreendia meu tio sempre a doar, até hoje quando eu peço e dele preciso, vejo-o a trabalhar; pois quem nasceu para servir, jamais pode esperar alguém para doar. Hoje no céu ele está, junto dos anjos celestiais, dizendo uma prece por nós, que a pedido do seu irmão, está sempre pedindo para ele interceder. Tião, seu irmão. O homem de bom coração.

Aqui eu findo essa, sem nada poder, nem dever esquecer, pois quem da pena se vale, poeta merece ser, e se por acaso esqueci de alguns, não se preocupem. Porque hoje é o dia de uns. Quem sabe um dia o seu pintará. Só agradeço a Deus por uma coisa… estes mestres a combinar. Porque fui sortudo de ter essa história frequentado. Com poucas ou muitas vitórias, que hoje vos posso contar. Para que um dia na Glória, eu também possa entrar. Até meu carecer… ou meu tão somente… viver.

Editada em 23.09.2000

Itaobim-MG

Dor de cabeça e trabalho duplo.

Reeditada em 29.08.24

Eugênio Costa Mimoso.

Eugênio Costa Mimoso
Enviado por Eugênio Costa Mimoso em 29/08/2024
Código do texto: T8139939
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.