Morada

A poesia mora em tudo

Onde menos espera

No espanto da ferida

Na dor adormecida.

Mora no silêncio

Na calada da noite

No hospício da esperança

Na loucura abstrata.

Mora no amor desconhecido

No refúgio desencontrado

No fel da boca

No vento sem destino.

Mora no olhar

Nos nós

Em nós

Na brisa do luar.

Mora num instante

Na língua da serpente

Num peito vazio

No livro da estante.

Mora na angústia da derrota

Na véspera dum amor

No beijo do infinito

No brilho do vencedor.

Mora no meu eu

Em você

Aqui, alí

No mundo...