IDÍLIO A MELPÔNEME.
CANTO 32.
1.
Conta-me, ó musa, as tragédias do passado,
Dos guerreiros e homens de outrora,
Dos valentes que eram tão corajosos,
Dos que se diziam nobres e valiosos,
Cantai a vossa fama em voz sonora,
Histórias de lutas, vitórias, valentia,
Derrotas, medo, dor, amor e ousadia.
2.
Conto-lhe de Teseu que chegou a Epidauro,
Onde encontrou Perifetes com sua clava,
Tragédia e morte trazia aos peregrinos,
Cravando-lhes as clava nos intestinos,
Teseu que pelo mesmo caminho estava,
Matou-o com o seu próprio instrumento,
Tomou para si a clava do homem violento.
3.
Conta-me, ó musa, toda tragédia,
Revela-me sobre esse Teseu,
Foi ele por ventura guerreiro?
Simples humano, deus ou aventureiro?
O que de tão trágico lhe aconteceu?
Diga-me tudo, não me oculte a verdade,
Ainda que horrenda e cheia de maldade.
4.
Já não te foi o bastante tanta maldade,
A tragédia que o cerca todo tempo,
O coração humano tornou-se devasso,
Cheio de corrupção, da verdade escasso,
Teus dias queimam ao sabor do vento,
O teu mundo cercado de calamidades,
Os teus reis proferem arbitrariedades.
5.
Saibas que esse Teseu era filho de Egeu,
Casou-se com Meta e a filha de Rexenor,
No labirinto ceifou o minotauro terrível,
Sua habilidade e astúcia era incrível,
Trouxe para muitos verdadeiro terror,
Héracles levou-a até nos recantos infernais,
Ele retornou, é apenas isso, não digo mais.
6.
Na verdade, nem sei o que nos tornamos,
O tempo todo somos puramente egoístas,
Olhamos apenas para o nosso umbigo,
Ninguém importa-se com o que dito,
Somos todos tolos, insensíveis, idealistas,
Bebemos da tragédia em cada dia,
Nos alimentamos de dor, enfado, agonia.
7.
Não te detenhas nas histórias Gregas,
Tão pior são as tragédias tuas,
Almas ceifadas no primeiro conflito,
A criança em pranto, o coração aflito,
O vale das almas, incontestáveis, nuas,
Vocês homens são de fato odiosos,
Ostentando o nada em olhares mentirosos.
8.
Não bastasse todo aquele horror,
As vidas brutalmente arrancadas,
Mulheres perderam os seus maridos,
Todos perderam tudo, os seus queridos,
O segundo conflito, tragédias superadas,
O homem desejando forças incontroláveis,
Não percebes, sois cegos, tolos, detestáveis.
9.
Não há perdão para a dita raça humana,
Nem para insensatez de vossos corações,
Tão pouco a vossa desenfreada corrupção,
Digo-lhe a verdade, tenho toda a razão,
Sois deploráveis em todas as nossas ações,
Vestindo a mentira roupas da verdade,
O que é bom, vestindo de malignidade.
10.
Aquieta-te, não se desespere nobre poeta,
Embora as tragédias parecem infindáveis,
Ainda que muito tênue existe esperança,
Se o coração humano for como da criança,
As vossas boas ações serão incontestáveis,
Concentra-te na arte da palavra, no verso,
Escreva, reinvente o seu próprio universo.