O RANGIDO DA SAUDADE

(Para que o leitor entenda melhor, o poema fala dos momentos vividos pelo autor, nos tempos da sua infância, no campo, na fazenda. Aí você verá nomes de bois, trabalhos desempenhados, etc)

Eu ainda era um menino

E já pegava firme na lida

Nas terras do meu avô

Conheci o duro labor

Aprendi a peleja da vida

E tem gente que duvida

Mas não careço mentir

De madrugada eu acordava

E pra escola caminhava

Muito antes do sol sair

Depois da lição cumprir

Eu botava jugo nos bois

Pra assumir a obrigação

E subir o morro do grotão

Atrelados de dois em dois

Puxando o carro-de-bois

Na guia Rochedo e Tufão

Atrás, Gaúcho e Pintado

Pantaneiro e boi Chumbado

Uma junta de bois dos bão

Naquele pedaço de chão

A vida não tem moleza

Vivendo naquela estância

Aprendi desde a infância

Como se põe o pão na mesa

Trabalhando com firmeza

Puxava arroz, feijão e milho

Também carreava cana

Muitas cargas de banana

E a mandioca de polvilho

A idade não era empecilho

Eu trabalhava até umas horas

E depois que o sol entrava

E a moringa se esvaziava

Era o momento de ir embora

Tem muita gente que ignora

O sofrimento do mateiro

Que trabalha sem parar

Pra sua família sustentar

E minguado é seu dinheiro

Essa função de carreiro

Trabalho muito importante

Um dos ofícios de meu avô

Um tesouro que ele deixou

Ficou num passado distante

Saudade eu tenho bastante

Desse tempo que se foi

Posso ouvir nos pensamentos

Recordo a todo momento

O ranger do carro de boi

Poeta Ed. Soares.

18/04/2023