Eu Filho
Gerado, não criado, foi apenas parido.
Eu sei, só eu sei o que não ter você ao meu lado:
na escola
na missa,
na festa dos pais.
Você não sabe o que é filho, mas, como saberia?
Tu me geraste, porém não me criaste.
Imaginava-te um grande herói, homem brabo que não tinha medo de nada.
Hoje te descubro… um homem
frágil
fraco
alheio até ao seu criar.
Pai!!! Recordar-te que só descobriste o erro no meu nome, somente quando eu tinha, vinte e quatro anos?
Veja só! Gerador, não criador.
Faltaste para ti, o pai. Disso eu sei.
Mas que culpa tive, eu?
Teu colo
sorriso
aquele abraço
ambos, jamais foram para mim.
Beijos roubados, furtados
pelas mulheres extras que
a vida lhe negou… Nós cegos e assim só
sobraram para eu e sua esposa os restos das outras…
E eu era parapeito dos raios da esposa ofendida:
Açoites
tapas
tabefes
surras
silêncios ensurdecedores
massacrantes;
tudo resultado de um prostituir sórdido…
Hoje, sobretudo hoje, pelo menos hoje… somente por hoje, gostaria de senti-lo parte de mim, e eu bem próximo de ti.
Disfarcei, por vezes sorri em lágrimas, às escondidas, para provar que não me importava. No entanto. Dentro sofria, morria, pouco a pouco.
O que te fiz, pai?
Não fui, mas a vida nos sacramentou.
Por isso, não confio mais em ti, até me esforço.
Nesse instante padeço, sofro, lacrimejo. Porque como sempre, já não posso mais recorrer-me a ti.
Que, sabe um dia, esse abismo entre nós dois parta e teremos a coragem de olharmos um na face do outro.
Foi e é difícil. O que me massacra o coração é porque sou tua cópia fiel. Aqui dentro de meu peito pobre e solitário, vive outro como você.
Maldita seja essa sua balbúrdia. Confiscada luxúria que joga filhos ao vento para serem sacrificados pelas máquinas da vida.
Minha genitora. Pobre mulher. Patrona das migalhas que chegam das mesas das outras.
Amélia jamais foi uma mulher de verdade, mas
sim uma traída e mal curada pela falta de amor de companheiros ausentes.
Respeite teu pai - esse era o lema. No entanto, a temática era: onde está ele?
Cá estou a esperar o colo que me roubaram e ainda vivo a imposição de ter sido um cause aborto, cria aberta do pai e cruz para uma maternidade mais que tardia… vazia.
Eu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Já fui um dia, usado pelos açoites de um casa-mento falido, mas mantido pela graça de uma fé tardia… magra a soluçar pelo amargor, sabor, desilusão para quem viverá na falta de pão.
João, eis aí teu filho. Filho eis aí tua mãe.
E alçando os olhos para o céu…
suspirou.
Afaste-me desse cálice.
Deixe-me aqui… partir só depois.
Filho…
Acordei… arqueiro dessa vida sofrida,
eu… sou.
Olha o alvo. Quem?
As dores se perpetuam.
Faço fatiga de concretizar
a paternidade a mim exigida.
É uma ferida marcada pelo tempo,
jogada ao vento. Lamento.
Pai… pai… pai…
Minha labuta hoje é de construir
o que não tive ontem e mesmo na ausência
dos momentos sofridos, busco o melhor para fazer diferente… não sendo ausente.
Amo-te. Porque sois eu.
Careço pedir-te perdão, assim com Adão.
Sei que não foi fácil para ti.
Iremos um dia abraçar-nos
olhar-nos no fundo e dizermos
bem no momento de sua eterna
viagem… sem mala… com alça e
assim, lá iremos nós de mãos dadas.
Pelas calçadas da vida recolhendo
as pedras que jogamos uns nos outros.
A bênção pai. Sentiremos falta um do
outro.
Adeus!!!!!
Em breve nos reencontraremos.
E diremos:
Bem vindo seja.
Editada em 12.06.1997
Itália
Reeditada em 24.08.24
Eugênio Costa Mimoso.