O amor de antes era pequeno 

Era distraído, ingênuo 

Era ralo, fino, frágil 

E ainda assim pesado 

Não consegui carregar 

 

O amor de antes  

Soube chegar 

Mas não sabia existir 

Não sabia continuar 

 

Não podia ser 

Não queria ser 

Tinha era medo de  

 

O amor de antes  

Queria cela e não o mar  

 

Não foi suficiente para aparecer 

Não era muito bonito 

Não era muito bom 

Não era muito 

 

O amor de antes não era 

E era melhor que não fosse. 

 

É que antes só havia a menina.  

A que pensou: “se de silêncio eu me fizer 

talvez a vida doa menos” 

E entregou as mãos 

Que língua já não tinha 

 

E viu beleza e não pode escrever sobre 

E viu maldade e não pode escrever sobre 

E se viu e não pode escrever sobre 

 

Agora não 

Agora há a mulher 

E o amor já não é como antes.

 

 

Este poema faz parte do trabalho Capitu no espelho, um trabalho fotográfico e poético, que percebe a personagem de Dom Casmurro a partir do conto O espelho, também de Machado de Assis.