Hiato

Tão bom seria se no mormaço da tarde o tempo parasse.

Colheríamos momentos, frases soltas, livres e perfumadas.

Se é que há bom odor na rotina corrida de fuligem e suor.

Descompromissada, brejeira, sem pretender agradar a terceiros.

Com uma pinça imaginária retiraríamos ruídos ou irrelevâncias várias.

Relevante seria molhar a alma no poço do amor duradouro.

Já que todo o ouro não vale o abrigo de amar sendo retribuído.

Bens fugazes tornariam-se eternos como a brisa do verão.

Tal só é possível, então, na terna mente do poeta, não aquela do esteta.

Perfeição não há no mundo, mas, no fundo, o sonho também o move.

As morsas que nadam milhas em busca de praias mornas resistem.

Conforto, proteção, são grandes molas e pedras que rolam.

Depois desse hiato o encanto cessaria e viveríamos de fato.