Coadjuvante
“Se eu pudesse te fotografar como te vejo agora,
entenderia daqui a muitos anos,
Ao olhar pro retrato, desgastado com o tempo,
que tu nunca esteves tão linda, quanto estás”
Disse eu, do outro lado do balcão
Me imaginando sentado,
A mesa que todo dia sirvo,
Me declarando para aquela
Que me é desconhecida
Mas a amo.
Eu olho pros casais que de fato ali estão.
A balança que pesou,
O relógio que contabilizou
E chegaram a números racionais.
Fatalmente erraram a conta.
Ela não fecha.
Não se encerra,
Se transborda.
Assim mesmo, sem pressa.
Me divirto vendo
o que eles nem percebem,
A magia do encontro,
Cronometrado não por Khrónos
minuciosamente articulado por Kairós.
Abandono meu protagonismo
E regozijo a alegria do estranho.
Que me pagou o que pediu
E me deu seu nome,
mas sim, um estranho.
Sou coadjuvante na minha própria vida,
E nesse papel,
Pelo menos naquele instante
Eu vi sentido.
Pois senti.