NÃO RECEIO A VOZ QUE NÃO DIZ
Não receio a voz que não diz,
a palavra insuficiente,
o sentimento eternamente revisitado.
Mas há sim um silêncio nas novas manhãs
algo ocas e vãs.
Há um desencontro que talvez
não deva ser encontro.
Não consigo a voz com que digo.
Falta-me sustentação, nesse acorde
que não pode soar pífio.
E emudeço quando escuto ecos de outrora,
dessa voz antiga que ameaça repetir-se
evocando memórias que também são ricas
de dores e males impossíveis de ignorar.
Males que não posso mais querer na minha vida,
mesmo que às custas de tantas coisas boas
que não chegarão a ser.
Assim, quem sabe
se hoje nasce uma outra forma de silêncio,
incompleto como todo o silêncio sempre é,
mas escolhido pelos remates necessários
que a vida nos exige a todos
que saibamos fazer.
Talvez hoje nasça uma outra voz que não diz,
e que não se diz por se saber supérflua.
E não dizendo, assim mesmo deixa saber
que por cima do tempo e das tempestades
sempre há um porto de abrigo
em todos os nossos mapas,
impossível de apagar.
feito de memória, magia e saudade..
A revisitar querendo.