NÃO RECEIO A VOZ QUE NÃO DIZ

Não receio a voz que não diz,

a palavra insuficiente,

o sentimento eternamente revisitado.

Mas há sim um silêncio nas novas manhãs

algo ocas e vãs.

Há um desencontro que talvez

não deva ser encontro.

Não consigo a voz com que digo.

Falta-me sustentação, nesse acorde

que não pode soar pífio.

E emudeço quando escuto ecos de outrora,

dessa voz antiga que ameaça repetir-se

evocando memórias que também são ricas

de dores e males impossíveis de ignorar.

Males que não posso mais querer na minha vida,

mesmo que às custas de tantas coisas boas

que não chegarão a ser.

Assim, quem sabe

se hoje nasce uma outra forma de silêncio,

incompleto como todo o silêncio sempre é,

mas escolhido pelos remates necessários

que a vida nos exige a todos

que saibamos fazer.

Talvez hoje nasça uma outra voz que não diz,

e que não se diz por se saber supérflua.

E não dizendo, assim mesmo deixa saber

que por cima do tempo e das tempestades

sempre há um porto de abrigo

em todos os nossos mapas,

impossível de apagar.

feito de memória, magia e saudade..

A revisitar querendo.

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 22/08/2024
Código do texto: T8134607
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