ORAÇÃO… POÉTICA
I
Um poeta nunca desaparece
pois a alma do mesmo se
esboça no respirar de um Deus,
que é e não deixar de ser,o
próprio inspirar.
Um poeta nunca dita,
apenas clama por uma sede de
tenra justiça que brota no âmago
dos mais simples e humildes.
dos pequeninos…
A criança… seu nato gerar.
Um poeta jamais aborta;
pois em seu útero não há
espaço para renegar, mas,
existe sim o espaço aberto
e fértil para semear… A Palavra.
Um poeta não castra,
justamente porque a sua virilidade
é tão ampla e fecunda, não somente
no embriagar-se, assim como no
extasiar-se em gêneros que clamam
por direitos… igualdade, ainda que
Tardia.
II
Um poeta jamais não cospe para cima, saliveia;
no entanto saboreia das lágrimas que
escorrem de rostos alheios e que desemboca
no lamaçal de seu ser… criatura: puro desejo
de criação.
O poeta desconhece o frio, exatamente para
aquecer corações vazios e solitários.
Ele dispensa o ódio… sentimento podre de
nobres que se escondem atrás das máscaras
da boa e velha Veneza… carnaval.
Ele vive o ápice dos amores perdidos,
rasgando o peito do verbo, vagando
pela noite adentro sem esperança
alguma de retornar.
III
Um poeta nunca diz tudo,
pois ser tudo é demagogia
pura de um Hitler que nada era…
apenas uma criaturinha. Verme.
Um poeta não é e não pode
maestrar ateu, à toa a tantos
povos que clamam por um tal
de paz que nós ,meros mortais,
feridos pela ignorância de não
conhecermos e não tão pouco
sabermos.
IV
O poeta chora com os olhos dos
outros cegos que vivem sendo ignorados
pelo lumiar da vida.
Ele grita com as bocas silenciadas de
tantos mundos, minúsculos seres que
jamais chegaram a falar e que não viverão.
Um poeta não gera. Simplesmente pari
aquela estrofe que jamais estaria
presente nas bocas insossas do mundo.
Ele cria tantos versos sem pressa, nem
rima de goelas secas no alheio dos seres
que sussurram de fininho:
cadê sua voz, pois assim encontrarei
onde está sua vez.
V
Nada é escondido, às ocultas no poeta,
mas, ao mesmo tempo ele é absorto nos
patamares do seu esconder… seu “falecer”.
Tudo é claro, horas muito pouco é escuro na
pequenez de uma vida poética.
Um poeta nunca deglute atoa as letras.
Ele carece mastigá-las profundamente;
isto para não ir contra o verdadeiro sentido
de falar, o responder de uma verborragia
carnal… faça-se…
Um poeta não contesta os raios do sol,
ou aquelas tão pequenas gotículas de
orvalho manhoso que pinga no seu
amadurecer a cada noite serena.
Silenciosa… estupidez: G r i t a r.
VI
O poeta é capaz de morrer para não
matar aquele pequeno balbuciar de
uma palavrinha que veio
ao mundo para salvar-nos do ódio pessoal
da raiva particular
do pecado humanitário
desta sua onipotência sórdida, gélida e cálida.
O coração do poeta é enorme,
deveras, como poderá ser pequeno
se tudo, todos que por eles passam
são imensos.
A imensidão deste coração é o
próprio anseio do querer
ascender-se.
VII
Um poeta não pode calar, isto
mesmo quando o proibiram de falar,
pois a sua altivez diante dos fatos,
porque não incluir as fotos; tem que
ser de pura intimidade com a razão
da existência eterna.
Um poeta só é poeta autêntico
quando o mesmo trás dentro de si
o dialogar do SER de todos os seres.
um poeta só compõe quando antes de
tudo ele prega, vive, partilha e se torna
o próprio… orar.
VIII
Eis-me aqui
senhor Criador
a pedir, sonhar
compor e orar.
Ora pro nóbis.
Que não nos falte nunca
a pena da tinta do escrivinhar.
Esperar… o broto da nova
ins-pi-ra-ção.
Editada em 17.01.1999
Reeditada em 17.08.24
Eugênio Costa Mimoso.