IDÍLIO A ÉRATO.

CANTO 30.

1.

Em cada flor do extenso jardim,

No verde caule entrelaçado,

Em cada pétala de vermelho intenso,

Na areia e ao reflexo deste mar imenso,

O céu está clamando desesperado,

De Érato chorando ao som da doce lira,

Em trovões se aflige, tanto quanto delira.

2.

Logo após o sol timidamente acena,

Procurando tua face desesperadamente,

Desejando-lhe os lábios indecentes,

Desejando-lhe os seios inocentes,

Querendo envolve-la lentamente,

Percorrendo o céu azul a procurá-la,

Até o último lampejo sem encontrá-la.

3.

Érato, musa do meu pecado,

Dos meus desejos desenfreados,

Da minha carne tão profana,

Da minha mente tão insana,

Dos meus sentimentos descontrolados,

Tudo remoendo dentro de mim,

Louco desejo que parece não ter fim.

4.

É tal como flor de açucena,

O corpo nu banhado pelo luar,

Jovem musa que me enlouqueceu,

Meu coração de pronto estremeceu,

Eternamente eu vou recordar,

No alto monte desfila majestosa beleza,

Entre deuses e musas iluminando a realeza.

5.

Tornei-me neste poeta melancólico,

Sem destino, jogado pelos cantos,

De olhar moribundo, sem nenhum atributo,

Áspero, rude, miserável, por vezes bruto,

Escrevendo furiosos e tortuosos lamentos,

De Érato não sou digno nenhum momento,

De tosco verso remoendo o ressentimento.

6.

Não tenho adornos, nem ouro,

Não tenho parte com a realeza,

Apenas um desejo ardendo no peito,

Ardendo neste seio carregado de defeito,

Tú, Érato, musa de indescritível beleza,

Apareceu-me desnuda completamente,

Deu-me de beber teu cálice efervescente.

7.

Ouço o som da tua Lira.

Enquanto da tua ternura embriago-me,

A voz tão suave soprando divinal,

Meu coração tornou-se seu igual,

Aos teus pés descansos, entrego-me,

Já não seria o mesmo poeta de outrora,

És magnífica como o romper da aurora.

8.

Musa da geometria,

Do cálculo exato, perfeito,

Inspirando o matemático dedicado,

No risco do mestre, no ponto marcado,

Em cada descoberta, cada novo conceito,

Na geometria sagrada te faz presente,

Sei bem que em nada te fizeste ausente.

9.

Eu que melancólico canto e choro,

E gritando ao curso da minha escrita,

Canto minha vida mal amada,

Versando a vivência desleixada,

Expondo uma poética incolor, maldita,

Do alto do monte Érato se envergonha,

Ri deste poeta que tolamente sonha.

10.

Quisera eu lhe oferecer todas as palavras,

O romantismo luminoso e purificado,

Em fios dourados tecer as tuas vestimentas,

Pintar com estrelas as noites de tormentas,

Quisera eu ser este teu poeta glorificado,

Que Érato me inspire o romântico verso,

E que possa mudar meu coração perverso.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 21/08/2024
Reeditado em 24/08/2024
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