Quando vejo o demônio a caminhar,

Quando vejo o demônio a caminhar,

está sempre na minha direção.

Tem as palmas abertas, nada à mão,

e sorri, como quem vai me agarrar.

Tem dois cascos e cornos a queimar,

e seus dentes, enormes me parecem.

Nada veste, tem pelos que o revestem,

são da cor que é do sangue, assim eu juro.

Seu andar é constante e também duro,

nem muralha nem tranca a ele impedem.

Ele avança, de longe, lentamente,

como quem tem certeza de alcançar.

E se eu paro, descanso, tomo um ar,

logo sinto ao pescoço o bafo quente

do Diabo que ri na minha frente.

Sobressalto, disparo, vou embora,

é preciso fugir, fugir agora,

como a caça ferida pela seta

a correr assustada, em linha reta,

a chorar soluçante, em vão sonora.

Quando vejo o demônio a caminhar,

a jamais dar as costas para mim,

eu não sei se tem cauda carmesim,

ou aljava que o deixe me acertar

como faz caçador ao ir caçar.

Mas eu sei que tem asas gigantescas

das cores e das formas mais grotescas

e que anda porque quer; pode voar.

18/08/2024

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 18/08/2024
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