M A N C A N Ç A S
Já não tem mais risos
porque faltam bocas.
Abraços, não tem mais braços.
O amor manca em corações mil,
isso porque não tem mais forças
para procurá-lo
alcançá-lo
conquistá-lo
encontrá-lo.
Não tem mais coros
porque as vozes silenciaram.
Desapareceram. Não sei para onde
creio que o absurdo aconteceu…
emudeceram-no. Absorto.
Mancam braços
faltam pernas e na goela seca
só resta uma demanda - onde
declinaram as bocas e braços?
Foram-se os pais, porque não restaram filhos
tão disponíveis para curá-los, ficarem
com os ditos.
Amarem
acolherem
cuidarem.
Também os filhos estão extinção
porque o aborto
aflora a realidade de tão poucos
que gritam por vida.
Raiz calejada,
porque falta a árvore.
Falta tudo.
Risos
bocas
pernas
pessoas
país
filhos…
Abrigos
gente
família.
Então monstro pegue a
bengala e peleje pelas
estradas do nada.
E se acaso chegares a algum
lugar… ligue para ir te buscar.
Pior. Já não existem mais
telefones-mudos.
Tutututututututututu Tututu….
Está fora de área ou desligado.
Caixa postal… deixe o seu recado.
Quem vai ouvi-lo? Não sabemos!
Faltam-nos ouvidos no tempo.
Alento do nosso resistir.
Editada em 27.10.1997
Reeditada em 17.08.24
Eugênio Costa Mimoso.