Clausura
Estou preso, não em celas de ferro e concreto,
mas enclausurado nas relações de poder
que permeiam tudo e todos!
Nessa prisão, já não sei quem sou!
Não sei se existo
ou se sou reflexo de olhares,
de discursos a me moldar,
dos que, como eu, seguem em clausura.
Não seriam grades dessa enorme prisão:
o verdadeiro e o falso,
o normal e o anormal,
o aceitável e o inaceitável?
Que realidade percebo ante meus olhos?
Que prisão é essa
que ao mesmo tempo me oprime,
mas também me faz enclausurar a outros?
Nesse invisível cárcere,
preso, sou carcereiro de outros,
prisão sem guardas!
Carcereiro de mim mesmo.
Diante de julgamentos, conformo-me ao meu medo,
lobo a vigiar lobos,
em um controle incessante.
Como num grande reality show,
vigio e sou vigiado,
espelhos de dupla via se apresentam por todos os lados,
reflexos incessantes de um olhar que nunca descansa.
Embora preso, sigo em liberdade vigiada!
Faço e me desfaço,
ajo e reajo no contexto que se apresenta.
E assim, nesse Panóptico de Foucault,
vivo minha pseudo-liberdade!
Utopia?
Não.