Clausura

Estou preso, não em celas de ferro e concreto,

mas enclausurado nas relações de poder

que permeiam tudo e todos!

Nessa prisão, já não sei quem sou!

Não sei se existo

ou se sou reflexo de olhares,

de discursos a me moldar,

dos que, como eu, seguem em clausura.

Não seriam grades dessa enorme prisão:

o verdadeiro e o falso,

o normal e o anormal,

o aceitável e o inaceitável?

Que realidade percebo ante meus olhos?

Que prisão é essa

que ao mesmo tempo me oprime,

mas também me faz enclausurar a outros?

Nesse invisível cárcere,

preso, sou carcereiro de outros,

prisão sem guardas!

Carcereiro de mim mesmo.

Diante de julgamentos, conformo-me ao meu medo,

lobo a vigiar lobos,

em um controle incessante.

Como num grande reality show,

vigio e sou vigiado,

espelhos de dupla via se apresentam por todos os lados,

reflexos incessantes de um olhar que nunca descansa.

Embora preso, sigo em liberdade vigiada!

Faço e me desfaço,

ajo e reajo no contexto que se apresenta.

E assim, nesse Panóptico de Foucault,

vivo minha pseudo-liberdade!

Utopia?

Não.

Divino Alves de Oliveira
Enviado por Divino Alves de Oliveira em 17/08/2024
Código do texto: T8130747
Classificação de conteúdo: seguro