comentário sobre tudo que existe
os que perguntam perguntam
se o navio de Teseu é ainda o mesmo
tendo todas as partes trocadas.
eu digo aos que perguntam:
o navio de Teseu
sequer foi sequer
o próprio navio.
entre a brisa oceânica
que lambe em sal o casco
e deposita
nas fendas maresia
and the yelp of the waterfowl
that so flail the flags
o navio já não é o mesmo.
já muito se disse sobre as águas
já muito se disse sobre o rio
já muito se disse sobre o riso
de que adianta digredir?
eu digo aos que perguntam:
o navio de Teseu
nunca foi navio
e quem o foi Teseu?
— sequer O foi Teseu?
e contanto, foi Teseu
tanto foi-o,
que teve até navio.
mas
não foi-o o navio.
e não foi-O Teseu.
mas ainda há quem pergunte
sobre o navio de Teseu.
eu digo aos que perguntam
que perguntem por toda fresta
se o navio é de Teseu,
ou se Teseu é o do navio.
e se teus olhos não pousam sobre as borboletas amareladas do passado
e se a rota delas não é unicamente a tua retina.
a Teseu o navio.
a ti, a pupila:
só o amor imortaliza.