comentário sobre tudo que existe

os que perguntam perguntam

se o navio de Teseu é ainda o mesmo

tendo todas as partes trocadas.

eu digo aos que perguntam:

o navio de Teseu

sequer foi sequer

o próprio navio.

entre a brisa oceânica

que lambe em sal o casco

e deposita

nas fendas maresia

and the yelp of the waterfowl

that so flail the flags

o navio já não é o mesmo.

já muito se disse sobre as águas

já muito se disse sobre o rio

já muito se disse sobre o riso

de que adianta digredir?

eu digo aos que perguntam:

o navio de Teseu

nunca foi navio

e quem o foi Teseu?

— sequer O foi Teseu?

e contanto, foi Teseu

tanto foi-o,

que teve até navio.

mas

não foi-o o navio.

e não foi-O Teseu.

mas ainda há quem pergunte

sobre o navio de Teseu.

eu digo aos que perguntam

que perguntem por toda fresta

se o navio é de Teseu,

ou se Teseu é o do navio.

e se teus olhos não pousam sobre as borboletas amareladas do passado

e se a rota delas não é unicamente a tua retina.

a Teseu o navio.

a ti, a pupila:

só o amor imortaliza.

Alê Ramponi
Enviado por Alê Ramponi em 16/08/2024
Reeditado em 22/08/2024
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