P R E C I O S I D A D E S ( 412 )
NUMA TARDE HIBERNAL
Cor de cimento , o mar ! E o ceu, cor de cimento !
Mar e ceu , ceu e mar se confundem na cor
de um túmulo fechado, onde houvesse um clamor
de almas a soluçar , de momento em momento .
E eu, que desejo vê-la, o meu soluço aumento .
E faz-se ave molhada, a minha própria dor ,
longe do manso olhar, do místico esplendor
dos seus olhos que são todo o meu pensamento .
E o mar e o ceu, assim, continuam fechados . . .
E a chuva torrencial não cessa , nos telhados ,
de correr, de correr , lentas horas a fio .
E cai, continuamente , a chuva impiedosa ,
sem que uma vela surja , a balouçar-se , airosa,
para me transportar quase morto de frio !