Meu Duplo
Nas ruas, remoendo remorsos,
pessoas perambulam perdidas,
perturbadas, padecem em seus pesares.
Pensei em partilhar angústias,
escolhas, risos e prantos.
Haveria ouvidos para me ouvir?
Mal conseguem me olhar nos olhos!
Seguem sombrias,
silenciosas se escondem em seus sofismas, sem tempo.
Oh, tempo, imutável, indiferente e insensível,
em cada segundo reverbera o que serei.
Ah, como grita em mim essa silenciosa e sofrida solidão!
Meu coração grita em batidas secas e constantes.
O eco morre às sombras de uma voz que se vai sumindo.
Não respondem aos meus clamores,
insistem em ser distantes,
e eu, buscando em vão, cumplicidade.
Ante o silêncio dos passantes,
em farrapos, sinto-me atado e suspenso ao madeiro.
Esgueiro-me pelos becos!
Ali, invento o meu duplo.
Com ele, dialogo!
Costuro palavras com a liberdade que penso ter,
não para conformar as pessoas,
mas para afirmar quem sou.