Meu Duplo

Nas ruas, remoendo remorsos,

pessoas perambulam perdidas,

perturbadas, padecem em seus pesares.

Pensei em partilhar angústias,

escolhas, risos e prantos.

Haveria ouvidos para me ouvir?

Mal conseguem me olhar nos olhos!

Seguem sombrias,

silenciosas se escondem em seus sofismas, sem tempo.

Oh, tempo, imutável, indiferente e insensível,

em cada segundo reverbera o que serei.

Ah, como grita em mim essa silenciosa e sofrida solidão!

Meu coração grita em batidas secas e constantes.

O eco morre às sombras de uma voz que se vai sumindo.

Não respondem aos meus clamores,

insistem em ser distantes,

e eu, buscando em vão, cumplicidade.

Ante o silêncio dos passantes,

em farrapos, sinto-me atado e suspenso ao madeiro.

Esgueiro-me pelos becos!

Ali, invento o meu duplo.

Com ele, dialogo!

Costuro palavras com a liberdade que penso ter,

não para conformar as pessoas,

mas para afirmar quem sou.

Divino Alves de Oliveira
Enviado por Divino Alves de Oliveira em 14/08/2024
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