MEDRA

Já chutei de pé trocado,

mas dei conta do recado,

não há amor sem pecado,

não vou chover no molhado

a verdade é inconteste.

E quem passou pelo teste

pode atentar ao que eu digo,

vai além do próprio umbigo

a verdade verdadeira.

Se a pontaria é certeira

e a seta encontra o alvo,

cumpriu-se o objetivo,

e não há um lenitivo

que mude a situação.

Certo, errado, ou mais ou menos,

isso é tudo o que temos,

quando não temos mais nada,

e a poeira da estrada,

nos entope as narinas,

e o poeta se queda em rimas,

não cheira e nem fede,

quando a inspiração se perde

na quebrada das esquinas.

Sem líricos pensamentos,

só retalhos de momentos

remendados de saudade.

Dura e crua realidade

travestida de poema,

transgênica tentativa

de captar sentimentos.

Um dia chutei o balde,

pedras, latas e estrelas

, desilusões, melhor tê-las,

do que jamais ter sonhado.

Viver é correr o risco,

mas entre o traço e o rabisco,

eu nem sequer me arrisco

a tecer opinião.

Polemicas não me agradam

nem sustentam opiniões,

quem tem as próprias razões,

delas não abre mão,

quem tem alucinações

se julga puro e santo

e jura ter corpo são.

Não me apraz deblaterar

dizia um poeta amigo,

e hoje também lhes digo,

no tal balaio de gato

não me faço de gaiato,

me resguardo e me recato

como manda o figurino.

Nem tanto o céu e nem só a terra,

mas o homem faz a guerra

por não ter o que fazer?

Ou a sede do poder

feito um diluvio moderno,

transforma a paz em inferno

como se costuma ver?

Se alguém souber a resposta,

que atire a primeira pedra,

mas nas mentes enlouquecidas

que povoam o universo.

a incoerência medra.