UNIVERSO EM MIM
TEMPO I
Eu embora presa
corpo cansado
pés presos ao chão
mas, voo
em pensamento,
em sonho...
O sonho me leva
e eu me dou conta
do que fui e onde me encontro...
Sou o passado
o presente
a vida passada nos tempos antigos
estou no tempo como bicho
como gente
na folha das árvores
no vento
nas aves que alçam voos
bem lá no alto
aquelas que migram de
uma ponta a outra da terra
Sou e fui um pedaço da terra
alagada, gelada
no tempo da invernada,
no verão, no outono
sou bicho do mato
aquela fera de olhos brilhantes
sou a vida rasteira
daquele animal que
se multiplica ou que
aparentemente se encontra
em extinção...
III
Sou aquela terra seca, árida
sou parte do deserto
a areia quente que queima os pés
sou animal pequeno
um inseto
uma molécula
que pelo corpo
passeia
Onde os tempos
me mostram que a vida
latente parece inexistente
Sou aqueles homens
que andavam procurando
um teto
sou o ser que mora numa casa,
num casebre, num palácio,
num pedaço de chão
onde é colocado um papelão
Sou aquele ser que vive
nas águas,
nas mais profundas
sem sequer se imaginar
os seres que por ali andam
ah mundo feito
desfeito
caótico
Sou pedaço de argila, num objeto
sou desejo de vida num homem
sem eira nem beira
Sou rio, lago, lagoas, igarapés
sou aves que singram os mares
sou aquele animal que ruge,
grita, grunhe, pia...
Sou pedaço do céu, do ar,
da luz que te ilumina
Sou tempo de relógios,
de grandes toques dos sinos das
antigas igrejas...
Uma parte de mim passeia
por entre projetos de eras passadas,
das grandes metas, das ideias
de que o mundo achatado
jogava vendas nos olhos...
Sou pedido de homens
querendo salvar-se de outros homens
que pensavam ser superiores
Sou partícula de corpos, objetos
despedaçados vitimas de bombas,
sou perdidos caminhos
quando o meu irmão pensava
ser melhor o mundo longe
da terra...
Sou um pouco de cada coisa,
de cada pessoa que aqui viveu...
Sou um tanto a terra, o universo
que foi criado de um Deus ou de
uma explosão...
Sou evolução, mas também
pequenas mudanças
ou perenes rotinas...
Sou pedaço de ti
sou tudo um pouco
e o nada me consome...
IV
Enfim percebo que em mim
existe um mar de tudo
que compõe este mundo
visível e do que simplesmente
sinto...
Não sou só uma parte do meu eu
sozinho, individual...
Sou a soma e partilha
do que faz ser o outro meu semelhante
e aquele que penso ser insignificante
Sou um pouco o bicho, o animal
que pensa, que sabe o que faz,
mas também a fera que vive
e sobrevive às custas de um
poderoso instinto
Sou a natureza que se encontra
ainda pura, ou aquela que
já foi poluída, devastada
Sou o grito de angústia de
uma humanidade que caminha
para sua própria destruição...
Sem entender que o que mata o outro
acaba por me matar também...
Raimunda Lucinda Martins