Sinto o calor da noite fria
A congelar-me o coração adoecido
Enlouquecendo-me neste vil jogo
Enregela-me no auge do fogo
Num torpor outrora entorpecido
Que anoitece quando ainda é dia
Cambiando em caos a calmaria
Busco em vão uma resposta
Para os meus dilemas sem fim
São tantos, nem logro contar
Mas há cura dentro de mim
É no que minh’alma aposta
No que elege acreditar…
Sinto o frio da noite quente
A embotar-me, de todo, os sentidos
E subtrair-me a doce sanidade
Incontáveis são os dias perdidos
Neste cárcere em minha mente
Em busca de uma identidade
Na fechadura jaz a chave
De ferrugem já corroída
Grita em mim a voz da vida
Que eu me cure da ferida
E finalmente a destrave…
Texto inspirado na poesia "Cárcere privado", da poetisa Ane Rose.
INTERAÇÃO ÉPICA DA POETISA ANE ROSE
São tantos os cárceres ao longo da vida
Que as chaves vão se perdendo no tempo
E até a chave mestra está perdida
Pois as portas só abrem por dentro
Que terrível confinamento
Transforma rainha em mendiga
Prisioneira do próprio pensamento
Em estilhaços partida
Tudo ao redor é tão lento
Pressa? Quem precisa?
Momento alinhavado a momento
A vida vai sendo repetida
Tijolo, areia, cimento...
A parede vai sendo erguida
E, de tormento em tormento
Lambendo as próprias feridas
Definhando sem alimento
Matando a sede com as lágrimas caídas
Sementes lançadas ao vento
Germinadas em areia movediça