Tem um camarada que fica pendurado num andaime
Pintando coisas engraçadas nos prédios do centro da cidade,
Dizem que são murais paisagísticos,
Mas as pessoas que passam debaixo desses prédios não olham para cima,
Acho que eles têm os olhos paralíticos.
Tem um outro que fica nos semáforos girando bambolês no pescoço,
Ele é tão moço,
Os motoristas dizem que ele devia trabalhar,
Eu não acho.
Toda vez passo por esses espaços e penso como tempo é lento
Me dá até cansaço de pensar.
Tenho o dom virulento de sonhar.
Não sei se a cidade cabe nesse lugar.
Deveriam inventar outro lugar para esses loucos
que sufocam a gente com a beleza de fazer
o que os gênios sequer conseguem pensar.
Talvez a volta dos distantes passatempos,
Aqueles lentos que a gente jogava com nossos avós
dê uma nova voz ao movimento do planeta.
Como aquele bambolê que não para de girar
Ou ainda a tinta fresca nas paredes possa colorir
Nossa maneira de viver.