Teatro representação

Eu vou ao encontro

De mim mesmo

Eu corro para me alcançar

Porém o outro eu

Corre mais rápido

Não consigo apreender

Nada

De nenhum eu

Todos os eus

São outros

Estranhos a mim

Complexos e infinitos

Não sei para onde vamos

Não sei de onde viemos

Provavelmente viemos

Do nada

Somos todos

E talvez voltaremos

Ao ponto de partida

Às vezes penso

Que vou

Para o começo

Que o começo

É o final

Porque quando me procuro

Só encontro o outro

Parece ser o outro

O espelho de mim

Vidro troncho

Retorcido,

Mas espelha

De mim

Não sei

Cansei da procura inócua

Descobri que

Eu me escondia

De mim mesmo

Enquanto um

buscava ansiosamente

o conhecimento de si

O outro mostrava-se fugidio

Desconhecido

O conhecer a mim

É impossível

Porque o eu

Somos eus, nós

E os outros

O que aparece

É o que quer esconder-se

Esconde-se quem quer mostrar-se.

Rodison Roberto Santos

São Paulo, 1997