Coroa
Vô, andei sonhando muito, erguendo quimeras de felicidade, sem bem saber o que isto seja. Mas, certa feita pelas horas vespertinas, caminhando à padaria de nossa infância, abriu-se, também para mim, a verdadeira máquina do mundo, contemplada em peso e majestade. Porém, longe de render-me à lassidão do tempo, longe de prostrar-me na modorra das minhas vaidades, ardeu-me no peito um fogo de amar. Casei-me ali com a realidade, num assomo de alegria ingênua e incontida, as mangueiras centenárias como testemunhas. Eu quis provar o teu tesouro, antes que pudesse calcular o preço. Deitei para chão meu sonho, encantado na luz de uns olhinhos, risonhos vistos de relance... eles viam a mesma coisa que eu vi. E aspirei na brisa a doçura de ser, para uma criança, o que um dia foste para mim.