FIO DE CORTE

Arado que rasga a terra

Terra que alimenta o homem

Homem que esmaga o homem.

No veio do tempo

No lanho da pele

No fio do corte

É o sangue que escorre

É a vida que esvai

Sem um palmo de terra

É a língua ferida

É a palavra mutilada

É a voz emudecida

É um sonho de menina

É um vestido de chita

Manchado de vermelho

É o mundo que gira

Essa lâmina que decepa sonhos

É uma mala fechada, debaixo da cama

Pronta para o irresistível mistério

É um sertão na alma

é uma madrugada que acalma

é dor, é luta, é ilusão

é a manhã que chega

uma nova aurora

uma nova chance.

Anda, que o movimento é liberdade

Vai, que teus pés que fazem a estrada

Acende a luz, que a vida é imensidão.

Uma singela homenagem ao livro "Torto Arado", de Itamar Vieira Junior.