Conhaque
Não sou poeta, não escrevo,
Não leio, não admiro estrelas,
Não me apaixono por luas.
Não me perco como se perdia Apollinaire,
Em seus amores inesquecíveis
Sobre a ponte Mirabeau que corta o Sena.
Não tenho a ironia de Machado,
Nem moro em mim mesmo como morava Mario.
Não sou Drummond e seus tantos josés,
Suas pedras no caminho.
Da minha língua nada sei.
Não sou poeta, não me forma tal ideia.
Não descrevo como descrevia Vinícius,
Suas mulheres de tantas curvas deitadas em papeis.
Não, não o faço, não o consigo fazer.
Não carrego a melancolia de Lorca,
Não possuo uma Matilde como Neruda.
Nem sou príncipe como foi Bilac.
O que é isso então, que nesse papel desperta?
Drummond, não deveria te dizer, mas tens razão,
Esse conhaque e essa lua nos botam comovidos como um cão!
Leonardo Ramos