O poeta

Não toque liras para mim, poeta

Hipnotizando-me com arrepios de verão

Só saber que estou viva

Aterroriza minha mais etérea emoção

Melodias perfeitas, rimas uniformes

Contos agridoces, realidade decadente

Para que servem os sonhos ultimamente?

Por que ainda acreditar?

Haverá uma mácula em cada lágrimas que eu chorar...

A imaginação mais doce lentamente desaparecendo

Ferindo como carne, minha triste monotonia

Eu peço para aforgar-me nestes versos

Tornar-me minha própria poesia

Mantendo notas musicais em um livro

Recitando palavras até desabrocharem

Mágoas se tornam música, poeira e dor

Pois não há sorte para um escritor

Nem paixões avassaladoras para lembrar

Apenas estrelas cadentes para desejar...

Não componha músicas para mim, tristeza

Não tenho mais amor para compartilhar

Apenas o silêncio pertence a essa incerteza

Estas fantasias não irão se harmonizar

Não há sereias nestes oceanos hibernais

Belas ondas que refletem seus olhos de marfim

Poeta, sua voz ronda meus instintos naturais

E eu bebo seu veneno até o fim

Presa em minhas indagações sem fundamento

Estou sozinha nestes ideais

Folheando páginas deste testamento

Que nunca beneficiará a mim

Iludida pelo futuro

Eu observo o poeta ainda imaturo

Envenenado pela modernidade

Eternamente fracassado...