Poema para uma pedra

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Há umas pedras brasileiras

Com as quais muito simpatizo.

Uma delas é uma cara perfeita

Que chora com um olho só

Um filete de água cristalina,

Pequenina cascata deslizante

Por sobre sua face imperturbável...

No tempo da seca,

Esse choro seca.

E fica a marca,

O vinco do choro emprestado pelas chuvas de verão...

A boca da pedra é séria, silenciosa,

Nunca falou e não vai falar

Seu segredo de fingida esfinge

Que contempla os passantes

Com misteriosa idade...

Brota da terra como uma pessoa gigantesca

Que mostra só a cabeça.

Essa pedra está num dos caminhos de Minas,

Perto da cidade de Nanuque,

Pelos lados do Kaladão...

Conquanto duras,

Conquanto escuras,

Vejo muita beleza nas pedras.

Elas, sim, têm o direito de ser duras.

Molezas não resistem aos séculos.

Ninguém ousará explodir e comercializar essa pedra.

Ela faz parte da paisagem do nosso mundo.

Mais de uma vez, de carro,

Pisco o olho para a pedra,

O olho da minha câmera digital.

Guardo sua imagem virtual.

O fazendeiro que a possui em suas terras

Não pode fazer nada com ela,

Nem com o terreno que ela ocupa.

A pedra nem pede desculpa.

Impõe-se!

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 10/01/2008
Código do texto: T812021