Poema para uma pedra
Euna Britto de Oliveira
www.euna.com.br
Há umas pedras brasileiras
Com as quais muito simpatizo.
Uma delas é uma cara perfeita
Que chora com um olho só
Um filete de água cristalina,
Pequenina cascata deslizante
Por sobre sua face imperturbável...
No tempo da seca,
Esse choro seca.
E fica a marca,
O vinco do choro emprestado pelas chuvas de verão...
A boca da pedra é séria, silenciosa,
Nunca falou e não vai falar
Seu segredo de fingida esfinge
Que contempla os passantes
Com misteriosa idade...
Brota da terra como uma pessoa gigantesca
Que mostra só a cabeça.
Essa pedra está num dos caminhos de Minas,
Perto da cidade de Nanuque,
Pelos lados do Kaladão...
Conquanto duras,
Conquanto escuras,
Vejo muita beleza nas pedras.
Elas, sim, têm o direito de ser duras.
Molezas não resistem aos séculos.
Ninguém ousará explodir e comercializar essa pedra.
Ela faz parte da paisagem do nosso mundo.
Mais de uma vez, de carro,
Pisco o olho para a pedra,
O olho da minha câmera digital.
Guardo sua imagem virtual.
O fazendeiro que a possui em suas terras
Não pode fazer nada com ela,
Nem com o terreno que ela ocupa.
A pedra nem pede desculpa.
Impõe-se!