Amanhã - Denise Reis

Sorvo um café recém coado

para tornar passível e possível o dia

gole a gole com expectativas adoçado

é subjetiva a fome de tempo e suas glórias

quando se degusta a manhã com pão requentado

já a noite nunca desarrima a memória

as horas pulsam saudades do recente passado

mas o que seriam das infâncias

se a vida fosse apenas desespero e desamparo?

a cadência de horizontes é futuro

que inspira cautela e silêncio

cerzidos com fios de inconstância

para dizer do destino o seu domínio

há réstias de eternidade penduradas nas janelas

a canção dos voos estende o sol

e os vergéis aromam esperanças

cumpre-se o primeiro passo

então basta afastar a palavra pedra

e seguir alinhavando intensões e gestos

por fim arrematar as linhas soltas

e semear ternura na realidade

para manter acesas as luzes do amanhã.