Entre a Carne e o Papel
Se és poeta, não digas a ninguém,
Não escrevas nesse mundo atrasado,
Onde ninguém sabe ler a poesia,
E nem a sentem.
Se és poeta, morra!
Se contorça, se destrua, devore a si mesmo,
Mas não conte a ninguém,
São muitos os ouvidos errados,
As bocas sujas e os corações duros.
Se és poeta, ame os olhos dela, morda os lábios,
Deslize as mãos nas curvas,
Beije o pescoço, inale o perfume,
Se afogue e a chupe, a faça gemer,
Mas não diz que és poeta.
Se és poeta, cala-te!
Não se atreva a revelar-te.
O mundo é cru e te fará réu.
Não mataras a tua fome,
O teu desejo de mostrar os detalhes,
Os valores de um aroma de café,
Da pele suada depois do sexo.
Poeta é bicho doente,
Se és poeta, és triste, desista,
Não escrevas mais.
Leonardo Ramos