Entre a Carne e o Papel

Se és poeta, não digas a ninguém,

Não escrevas nesse mundo atrasado,

Onde ninguém sabe ler a poesia,

E nem a sentem.

Se és poeta, morra!

Se contorça, se destrua, devore a si mesmo,

Mas não conte a ninguém,

São muitos os ouvidos errados,

As bocas sujas e os corações duros.

Se és poeta, ame os olhos dela, morda os lábios,

Deslize as mãos nas curvas,

Beije o pescoço, inale o perfume,

Se afogue e a chupe, a faça gemer,

Mas não diz que és poeta.

Se és poeta, cala-te!

Não se atreva a revelar-te.

O mundo é cru e te fará réu.

Não mataras a tua fome,

O teu desejo de mostrar os detalhes,

Os valores de um aroma de café,

Da pele suada depois do sexo.

Poeta é bicho doente,

Se és poeta, és triste, desista,

Não escrevas mais.

Leonardo Ramos

Leonardo Ramos de Almeida
Enviado por Leonardo Ramos de Almeida em 31/07/2024
Código do texto: T8119163
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