Noturno

A cigarra canta entre a paisagem,

Aviso que a primavera chegará sem chuvas

Na próxima mudança de lua, quem sabe?

Em tempos mais áridos, a solidão envelhece um pouco o olhar

Deixa ao ar uma moldura amendoada...

Há naturalmente um silêncio um pouco mais profundo ...

Percebo que minhas roseiras atrasam os botões

O pequeno canteiro de ervas precisa de cuidados

Alguns pássaros atrasaram a migração

Na água que corre mais fina, ao fundo do roseiral

O poente avermelhado, anuncia noite fria e estrelada

E que amanhã será um longo dia de sol

Um longo dia de sol...

No conforto da antiga cadeira em madeira maciça, observo a noite

vejo a dança das nuvens, os desenhos que formam no céu,

o chá de capim-santo adocicado levemente com mel

acendo um cigarro, lembro em silêncio antigos poemas

alguns em voz baixa, deixo fluir várias vezes pela amplidão

como se os oferecesse ao arrebol...

há muito percebi em mim, como poeta, o alvorecer da quietude

um outro prisma da poesia, um aspecto mais maduro da sensibilidade

por isso o hábito de repetir poemas antigos

enquanto sirvo-me de outra xícara, e protejo-me com o cachecol

a cigarra ainda canta entre as paisagens,

amanhã será um longo dia de sol

um longo dia de sol...

Tonho França

Tonho França
Enviado por Tonho França em 10/01/2008
Código do texto: T811867