Cada anjo com sua face *

Quando nasci, um anjo espevitado,

De olhar franco, me disse, bonachão:

Coragem, faça o que foi ditado.

Se precisar, eu seguro sua mão.

Para mostrar que era de confiança,

Fez meu pai me acolher com festança,

Ele que aguardava primogênito varão.

De Paulo Filho, virei Paula.

Grata à divina intervenção,

Minha mãe antepôs Maria,

Como outras tantas Marias.

(Tempos de muita gratidão!)

Vida, vida, benfazeja vida,

Se eu fosse Aparecida,

Seria uma rima, talvez solução,

Pra poesia fazer invasão.

Verdade, verdade, somente a verdade.

Talvez Deus me desse cartão e senha

Do caixa eletrônico da felicidade,

Fosse meu verdadeiro nome Penha.

Pura cena, oh, que pena!

O que eu queria apenas

Mirando-me no exemplo

das mulheres de Atenas

Era ser chamada Helena.

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“ Quando nasci, um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira”

Adélia Prado in Com licença Poética

“ Quando nasci, veio um anjo safado

O chato do querubim

E decretou que eu estava predestinado

A ser errado assim”

Chico Buarque in Até o fim

“ Quando nasci, um anjo torto, manco

Quase louco, veio ler a minha mão ( ... )

Era um anjo bem barroco

Rouco, rouco, rouco, com asas de avião”

Sidney Olívio in Anjo

“ Quando eu nasci, um anjo muito louco

Veio ler a minha mão

Eis que esse anjo me disse ( ... ) entredentes

Vai, bicho, desafinar o coro dos contentes”

Jards Macalé/Torquato Neto in Let´s play that

“ Quando eu nasci, um anjo apressado,

Magrelo, franzino, desengonçado,

falou: vá, Ciça, segue o seu destino.

Acrescentou no seu jeito engraçado:

Cuidado com a cabeça no sol a pino”

Ciça, 13 anos

“ Quando nasci, um anjo engraçado,

Veio todo, todinho arrumado,

E me disse assim:

Meu lindo jasmim,

vá mostrar ao mundo

que a felicidade não tem fim”.

Ísis, 9 anos

“Quando eu voltei, veio um anjo ferrenho,

cansado de meningites agudas.

Ditou: devido a esse todo empenho,

terás que plantar inúmeras mudas

Que atinjam idéias por toda parte.

Sua ferramenta pra isso é a arte.”

Leca, 16 anos

* intertextualidades ao "Poema de sete faces" de Carlos D. Andrade

outubro/2007

Maria Paula Alvim
Enviado por Maria Paula Alvim em 10/01/2008
Código do texto: T811845
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