O DOM DE CONSERTAR
a magia potencial do movimento, feito leito
na firmeza dos dedos, toque lento, boca à parte
acolhendo, numa espécie de arte (sinto
a sorte, sente a pele, certos fins de tarde...),
abro mão das muletas, cicatrizes sociáveis
café amargo na janela adoçando o contato
receita frequentemente refeita sem contrato.
amuleto, vento que sopra em novembro
arrepiando a alma com a calmaria
de quem ganha a discussão calando.
perfazendo na pintura, nas paredes
pendurando pedaços do imperfeito pela
extensão da superfície de toda parte.
na recuperação silenciosa dos corpos,
musculaturas cansadas. toque é flerte amiúde
envolvimento curando pr'além da carne
o que toca antes mesmo do que é nosso
encostar o estranho, até então desconhecido,
com licença, excitante. quando olhares
encontram lares nas encostas impacientes
de prazeres passeantes do pensar.
saudade é alguém que insiste em me consertar.