A LÍNGUA É MINHA
Declaro solenemente que a Língua é minha;
que foi de repente que as palavras saíram da minha boca
e que em nenhum momento foram lá colocadas.
E saíram as palavras, e em Português.
E meu coração foi quem as inventou.
Eu disse e a palavra se fez!
Então é minha!
A regra era dizer o que eu dizia
Depois descobri que as palavras, livres, que eu tinha parido, tinham sido há séculos aprisionadas:
saíam livres da minha boca e já eram encarceradas
num conjunto engramaticado de regras
Mas não, Cultos, a Língua é minha!
E não por passar por essa língua de carne,
que tenho em minha boca,
e que pela terra um dia será comida,
assim como os olhos,
mas porque se desdobrava num espaço infinito muito antes do ódio.