Natália
Como nos meus sonhos, Natália se sentou no meu colo, e tomou um gole de cerveja de um copo
que eu não sabia e se era meu, se era dela ou se era nosso.
Talvez eu tivesse esperado tempo demais que as coisas pudessem fluir desse jeito na vida real
pra acreditar que um dia fosse possível.
Entre um trago de cigarro, um sorriso e uma gargalhada,
ela se abria,
e me olhava como se a felicidade
pudesse ser eterna.
Mesmo que eu soubesse que não seria.
Natália, e tudo o que ela me trazia
parecia estar além do amor,
além do mero encanto
e do tesão de sexta feira,
que tanto nos acometia
Como um bloco que se arrastava por uma rua,
à despeito do fim do carnaval,
ela resistia ao tempo,
com a paixão dos renitentes,
e me beijava,
como se fosse um crime
abrir os olhos
antes do fim.
E eu pensava que talvez, lá no final,
eu pudesse encontrar o céu,
com minha língua,
e ser arrebatado.
Talvez,
só talvez,
eu pudesse gozar
antes do último verso riscado,
e da última rima,
se apagar de sua pele,
Talvez,
só dessa vez,
Natália me pegasse pela mão,
e me encaixasse entre as pernas
daquele jeito,
que não me deixava espaço,
pra escapar.
e aí já era,
a minha razão de novo.
Eu atravessaria
uma cidade ou duas,
talvez mais,
só pra saber
o quanto ela me queria,
e enfim,
se eu podia,
deixar na carne
a marca das mãos,
que em pensamento
eu tanto repetia.