Balada do Tempo

Sofrer o tempo é nele estar

Entrar no tempo é ser.

E ser no tempo é dissipar-se,

Em fumo evanescer...

Nascer pequeno e vir banhar-se

Nos rios do vir-a-ser.

Brotar semente e conformar-se

À lei do florescer.

No coração sentir que arde

O sonho de crescer.

Para no tempo desvendar-se

As tramas do viver.

Na ampulheta investigar-se

As mil razões do ser,

Vendo o mistério transformar-se

Em grãos a escorrer.

Na imensidão e nos alardes

Da turba, achar-se só.

Na interminável soledade

Da escada de Jacó.

Do longo sono despertar-se

No sino das seis horas...

E ponto a ponto costurar

Retalhos de memórias.

Perante o trono confessar-se

Culpado do libelo,

Quando encontrar-se face a face

Com o tempo e seu martelo.

De um velho rosto recordar-se

No turbilhão das águas

E descobrir que alguns olhares

O tempo não apaga.

E suportar ao fim estrada

A última lição:

Da flor sem culpa estraçalhada

A exalar perdão.

No aquarelado fim de tarde

A brisa ouvir dizer...

Enquanto é tempo estude a arte

De amar e de escolher.

J C B Camerini
Enviado por J C B Camerini em 27/07/2024
Reeditado em 21/10/2024
Código do texto: T8116066
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