A USINA (José Lins do Rego)

“A usina pedia que se botasse o coração de lado.”[88]

“Os moradores de perto da casa-grande

tinham sido jogados para longe.

Nada de casa de morador pelo meio da várzea,

tomando o lugar dos partidos de cana.

A usina não permitia que o povo ocupasse

um pedaço de terra que fosse boa de cana.”[89]

“A usina não podia perder

um palmo de terra de várzea.”[90]

“Em tudo o que era do povo

a usina crescia os olhos.”[91]

“Não havia lei de Deus para a usina.”[101]

“A usina sacudira o pobre da várzea para a caatinga,

arrancando-lhe o ninho que ele fizera,

com os seus cacarecos, os seus troços.”[92]

“Era a usina que mandava nas coisas.”[93]

“A usina tomara todos os dias da semana para os seus eitos.”[94]

“Os homens sem camisa entregavam o lombo à canícula.”[103]

“Ninguém podia chupar cana de usina.

Aquilo ali não era o Santa Rosa (...)

Chupar cana de usina era um crime.”[95]

“A usina gemia, quebrando cana,

as máquinas apitavam, puxando os trens carregados.”[96]

“De madrugada o apito da usina chamava

as outras turmas para pegar no pesado.”[102]

“Os trens de cana (...) não davam vencimento

à fome das moendas.”[97]

“Há seis anos que a Bom Jesus comia o Santa Rosa,

engolia aos poucos os restos do velho engenho.”[95]

“Entregue ao latifúndio, comido e chupado pela terra maior.”[104]

“A usina despojara o [rio] Paraíba de suas bondades,

mijando aquela calda fedorenta,

justamente nos tempos da seca.

Transformava aquele leito branco,

enverdecido pelos juncos, pelas salsas,

num rego, por onde corria um fio de lama.”[98]

“A usina comera, a usina raspara, (...)”[99]

“O Santa Rosa evaporara-se.”[100]

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[88]REGO, José Lins do. Usina, p. 38

[89]REGO, José Lins do. Usina, p. 40

[90]REGO, José Lins do. Usina, p. 59

[91]REGO, José Lins do. Usina, p. 106

[92]REGO, José Lins do. Usina, p. 70

[101]REGO, José Lins do. Usina, p. 129

[93]REGO, José Lins do. Usina, p. 63

[94]REGO, José Lins do. Usina, p. 72

[95]REGO, José Lins do. Usina, p. 64

[96]REGO, José Lins do. Usina, p. 106

[102]REGO, José Lins do. Usina, p. 132

[95]REGO, José Lins do. Usina, p. 64

[97]REGO, José Lins do. Usina, p. 62

[98]REGO, José Lins do. Usina, p. 87

[99]REGO, José Lins do. Usina, p. 60)

[100]REGO, José Lins do. Usina, p. 92

[104]REGO, José Lins do. Usina, p. 144

ORGANIZAÇÃO: ANTONIO COSTTA

Do livro "Poemas Zelinianos", disponível neste link:

https://clubedeautores.com.br/livro/poemas-zelinianos