sangue rubro
Eu a tenho na vereda mais pura, onde o sol, já acolhido
Pelas copas das árvores, se transmuta em chão e ternura
Sob o sereno da vida.
Embora a ame, não coloco seu retrato no para-brisa,
Nem ouço alto a música que nos fez instante
E tornou jubilosa a palavra encontro.
Não a desfaço do pensamento, ainda que sofra
De tua ausência e teu lugar, o vácuo sombrio extremo,
Me envolve por dentro e torna carne intemporal,
Este sangue, rubro e pulsante, que, sem ti, não
É rumo nem trilha, salvo aquele que me mantém vivo.
Desbravo a floresta escura, já sabendo que seu amparo
É um deserto engenhoso ou a pedra de fundo, desvirginando
Meu pensamento para o que não se pode conter,
Ou desfilar pelos vestidos iluminados de signos desejosos de coisas.
Sou velho e sou novo nessa partida que luta pra chegar,
Sou o instante, embora a eternidade já me sopre sua demora,
E me torno imenso, dedilhando os grãos mais secretos e diminutos,
Orvalhados, molham meu coração de desejo,
E nessa água sou breve, um enigma de fogo e claridade
Entre duas montanhas negras, embora o tempo em meu coração
Seja exaustivo e me descreva o escuro do mundo.
Morro e renasço das vezes morro somente para acordar novamente,
E saber o sol fresco, a brisa que nasce das folhas das árvores
Tornando a vida o próprio rosto que só com a morte
Pode ser contemplado por inteiro.
Silenciosamente me deito nessa relva, que me grava para todo
Sempre na espera de teu amor, porque sei, porque soube,
Que me desdobro e dobro a esquina, mas nunca prossigo,
Até que eu saiba que tu me acompanhas.
Andrade de campos